Aquele moleque, que sobrevive como manda o dia-a-dia,
Tá na correria, como vive a maioria,
Preto desde nascença, escuro de sol.
Eu tô pra vê ali igual, no futebol.
Sair um dia das ruas é a meta final,
Viver descente, sem ter na mente o mal.
Tem o instinto que a liberdade deu,
Tem a malicia, que cada esquina deu.
Conhece puta, traficante e ladrão,
Toda raça, uma par de alucinado e nunca embaçou.
Confia neles mais do que na polícia,
Quem confia em polícia? Eu não sou louco.
A noite chega e o frio também,
Sem demora, ai a pedra,
O consumo aumenta a cada hora.
Pra aquecer ou pra esquecer,
Viciar, deve ser pra se adormecer,
Pra sonha, viajar, na paranoia, na escuridão,
Um poço fundo de lama, mais um irmão,
Não quer crescer, ser fugitivo do passado,
Envergonhar-se se aos 25 ter chegado.
Queria que Deus ouvisse a minha voz,
E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz.
Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)
Um dia ele viu a malandragem com o bolso cheio,
Pagando a rodada, risada e vagabunda no meio.
A impressão que dá, é que ninguém pode parar,
Um carro importado, som no talo,
Homem na Estrada, eles gostam.
Só bagaceira só, o dia inteiro só,
Como ganha o dinheiro?
Vendendo pedra e pó.
Rolex, ouro no pescoço à custa de alguém,
Uma gostosa do lado, pagando pau pra quem?
A polícia passou e fez o seu papel,
Dinheiro na mão, corrupção a luz do céu.
Que vida agitada, hein? Gente pobre tem.
Periferia tem. Você conhece alguém?
Moleque novo que não passa dos 12,
Já viu, viveu, mais que muito homem de hoje.
Vira a esquina e para em frente a uma vitrine,
Se vê, se imagina na vida do crime.
Dizem que quem quer segue o caminho certo,
Ele se espelha em quem tá mais perto.
Pelo reflexo do vidro ele vê,
Seu sonho no chão se retorcer.
Ninguém liga pro moleque tendo um ataque,
"Foda-se, quem morrer dessa porra de crack."
Relacione os fatos com seu sonho,
Poderia ser eu no seu lugar.
Das duas uma, eu não quero desandar,
Por aqueles manos que trouxeram essa porra pra cá.
Matando os outros, em troca de dinheiro e fama,
Grana suja, como vem, vai, não me engana.
Queria que Deus ouvisse a minha voz,
E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz.
Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)
Ei mano, será que ele terá uma chance?
Quem vive nessa porra, merece uma revanche.
É um dom que você tem de viver,
É um dom que você recebe pra sobreviver.
História chata, mas cê tá ligado,
Que é bom lembrar: quem entra, é um em cem pra voltar.
Quer dinheiro pra vender? Tem um monte aí.
Tem dinheiro, quer usar? Tem um monte aí.
Tudo dentro de casa vira fumaça, é foda.
Será que Deus deve estar aprovando minha raça?
Só desgraça gira em torno daqui.
Falei do JB ao Piqueri, Mazzei.
Rezei para o moleque que pediu,
"Qualquer trocado, qualquer moeda,
Me ajuda tio..."
Pra mim não faz falta, uma moeda não neguei,
Não quero saber, o que que pega se eu errei.
Independente, a minha parte eu fiz,
Tirei um sorriso ingênuo, fiquei um terço feliz.
Se diz que moleque de rua rouba,
O governo, a polícia, no Brasil quem não rouba?
Ele só não tem diploma pra roubar,
Ele não esconde atrás de uma farda suja.
É tudo uma questão de reflexão irmão,
É uma questão de pensar.
A polícia sempre dá o mau exemplo,
Lava a minha rua de sangue, leva o ódio pra dentro.
Pra dentro de cada canto da cidade,
Pra cima dos quatro extremos da simplicidade.
A minha liberdade foi roubada,
Minha dignidade violentada.
Que nada dos manos se ligar,
Parar de se matar.
Amaldiçoar, levar pra longe daqui essa porra.
Não quero que um filho meu um dia Deus me livre morra,
Ou um parente meu acabe com um tiro na boca.
É preciso eu morrer pra Deus ouvir minha voz,
Ou transformar aqui no Mundo Mágico de Oz?
Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)
Jardim Filhos da Terra e tal,
Jardim Hebron, Jaçanã e Jova Rural.
Piqueri, Mazzei, Nova Galvão.
Jardim Corisco, Fontális e então.
Campo Limpo, Guarulhos, Jardim Peri.
JB, Edu Chaves e Tucuruvi.
Alô Doze, Mimosa, São Rafael.
Zaki Narchi, tem um lugar no céu.
Às vezes eu fico pensando,
Se Deus existe mesmo, morô?
Porque meu povo já sofreu demais,
E continua sofrendo até hoje.
Só que ai eu vejo os moleque nos farol, na rua,
Muito louco de cola, de pedra,
E eu penso que poderia ser um filho meu, morô?
Mas aí, eu tenho fé,
Eu tenho fé... em Deus.